2º quadrimestre 2024
Produzidas pela artista Felícia Leirner entre os anos 1966 e 1967, a série “Habitáculos” é composta por quatro esculturas de dimensões arquitetônicas, que possuem aberturas e espaços internos, prontos para serem habitados, provocando a interatividade com o entorno. Para o crítico de arte Frederico Morais, essas obras têm um acentuado barroquismo e são espaços reduzidos – “a casa onírica de Felícia, uterina, protetora, aconchegante e maternal” (MORAIS, 1991, pág. 93).
De acordo com a pesquisadora Sonia Prieto, Felícia começa a esculpir em grandes dimensões na cidade de São Paulo, quando passa a ter um interesse pessoal pela arquitetura. Segundo Prieto, não há informações sobre esboços e maquetes dessas obras, mas acredita-se que Felícia contava com ajudantes para trabalhar com o gesso. A pesquisadora ainda comenta que o arquiteto Gregori Warchavchik e o jornalista, crítico e colecionador de arte Pietro Maria Bardi viram esses trabalhos e a “incentivaram bastante” (PRIETO, 1980, pág. 96).
A série “Habitáculos” chegou a ser exposta no pátio da 9º Bienal Internacional de Arte de São Paulo, em 1967, e permitiram, além de pensar em habitações, a brincadeiras das crianças visitantes, reforçando o conceito de interatividade com o entorno.
O período no qual Felícia começou a realizar obras em grandes proporções foi marcado por sua mudança da cidade de São Paulo para Campos do Jordão, após o falecimento de seu marido, Isai Leirner. Ao chegar a Campos para estabelecer morada definitiva, a artista deu continuidade aos seus processos artísticos, viabilizando a escultura de uma forma diferente: em São Paulo, a artista utilizou o bronze como matéria-prima dos seus principais trabalhos através da técnica conhecida como “cera perdida”. Ao se mudar para o interior do estado, a execução da técnica tornou-se inviável pela inexistência de ateliês para fundição.
Em sua nova cidade, o material adotado pela artista foi o cimento branco, que é muito parecido com o cinza, mas recebe agregados na composição. Esse tipo de material costuma ser utilizado para detalhes nas construções, elementos decorativos e esculturas.
Para a série “Habitáculos”, Felícia fazia maquetes de argila e depois cópias ampliadas em gesso, às vezes com algumas alterações para a reprodução final em cimento branco com armação de ferro, que depois recebiam uma camada de tinta mineral branca. (PRIETO, 1980, pág.96).
Essas esculturas podem ser admiradas no percurso do Museu Felícia Leirner, onde estão integradas à paisagem de forma orgânica e natural, seguindo curadoria da própria artista.
Referências
MUSEU FELÍCIA LEIRNER E AUDITÓRIO CLAUDIO SANTORO. Plano Museológico. ACAM Portinari: Campos do Jordão, 2021.
MORAIS, FREDERICO. Felícia Leirner: a arte como missão. Campos do Jordão: Museu Felícia Leirner, 1991.
PRIETO, Sonia (pesquisa). Situação atual da escultura na cidade de São Paulo (Pesquisa 5). São Paulo: IDART, 1980.
Série Habitáculos: Estrutura, Conservação, Integração e Interação. Museu Felícia Leirner, 2020. Disponível em: https://www.museufelicialeirner.org.br/noticias-de-acervo/serie-habitaculos-estrutura-conservacao-integracao-e-interacao/ Acesso em: 28 de Abril de 2023.