Efêmero. Ora, um pássaro no vale
Cantou por um momento, outrora, mas
O vale escuta ainda envolto em paz
Para que a voz do pássaro não cale.
E uma fonte futura, hoje primária
No seio da montanha irromperá
Fatal, da pedra ardente, e levará
À voz a melodia necessária.
O efêmero. E mais tarde, quando antigas
Se fizerem as flores e as cantigas
A uma nova emoção morrerem, cedo.
Quem conhecer o vale e seu segredo
Nem sequer pensará na fonte, a sós...
Porém o vale há de escutar a voz.
(MORAES, 2006, P.21)
Quem dera houvesse um vale imaginário onde a mente pudesse repousar descansada, sonhar e divagar pelo nada, apreciando a natureza toda a sorrir; deliciando-se com o perfume da floresta; e bebericando da fonte incansável de matizes. Seria possível então escutar a voz das flores dizendo repetidamente o quanto são felizes em meio ao simples que as cerca. Seria possível perceber a brisa indo e voltando, levando consigo os pensamentos.
Talvez esses mundos divaguem por aí, passem pertinho da mente criativa e fluem pelo espírito em sussurro. Para acessá-los basta que o pensamento se entregue, que esteja aberto, ou simplesmente que pegue carona num balão colorido e se deixe fugir do mundo monocromático que o dia a dia oferece.
Esse ajuizamento norteou a obra de Rosângela Vig que criou seus Mundos Imaginários por meio da Arte. Com obras premiadas e expostas em diversos países, sua poética se traduz em conduzir o observador a esses cantos escondidos da imaginação. Seu trabalho com efeitos de luz e de sombra permite que o olhar se distraia com os balões que parecem se destacar da tela, como se pertencessem a outros mundos, num efeito tridimensional. Na narrativa, os balões vão surgindo um a um, tela por tela, coloridos, pintados com tinta ou com tecido. Guiados pelo leme de barcos e de navios antigos, eles passam do mundo real, monocromático, para o imaginário, repleto de passarinhos, de peixes, de borboletas e pedras coloridas; com pontes de arco Iris que se movem lentamente, balançando com a brisa leve que vem e que vai.
Seis obras da artista estarão à mostra no Museu Felícia Leirner, em Campos do Jordão, de 13 a 21 de Janeiro de 2024, para conduzir o olhar do observador a esses mundos imaginários, por meio de uma história. O Museu fica na Av. Dr. Luis Arrobas Martins, 1880, no Alto da Boa Vista, na linda cidade de Campos do Jordão, no Estado de São Paulo.
No dia 13, abertura da mostra, às 11 horas da manhã, a artista convida todos a participarem de uma oficina de Desenho, para estimular a criatividade e os passeios pela imaginação. E inspiração é o que não falta no Museu Felícia Leirner. O local sedia festivais de música, exposição permanente de esculturas e é rodeado por toda a natureza de Campos do Jordão. A Cultura e a Arte agradecem.
Referências: MORAES, Vinícius. Livro de Sonetos. São Paulo: Cia. Das Letras, 2006.