2º Trimestre | 2018
Já tratamos em outros materiais sobre a grandeza e notoriedade da natureza que circunda a coleção de esculturas do Museu Felícia Leirner. Para introduzir o assunto, lembramos que a vegetação local se caracteriza como mata de altitude, tendo flora e fauna diversificadas. Um remanescente de Mata Atlântica que apresenta uma rica variedade biológica e que conta, inclusive, com espécies de animais ameaçados de extinção.
Já discutimos, igualmente, a poética da artista Felícia Leirner que propõe uma interação muito direta entre as obras de arte e o meio ambiente do entorno – o que acaba por criar condições de conservação bastante peculiares. Trazemos, nesta edição, um aspecto bem específico desta interação entre a obra de arte e a natureza, qual seja o da formação contínua de liquens vermelhos ou rosas sobre as esculturas de cimento branco.
Eles são associações entre fungos e algas que, interagindo entre si, vivem numa relação simbiótica, ou seja, de apoio mútuo. É importante destacar que a sobrevivência desses organismos aponta para a elevada qualidade do ar, uma vez que só se desenvolvem em locais onde a poluição é quase zero, beirando a pureza total. São considerados, inclusive, um detector e indicador biológico da poluição.
Tendo em vista o local e as condições naturais privilegiadas em que o Museu se situa, o aparecimento desses liquens seria inevitável. Em uma visita breve à coleção de esculturas de cimento branco é possível, em alguns momentos, notar uma leve coloração vermelha alaranjada sobre as obras. Este fenômeno decorre da proliferação de exemplares vermelhos ou rosas em toda a superfície das esculturas. Vale lembrar que eles não apresentam, porém, nenhuma ação nociva quanto à conservação estrutural das obras. Seu efeito é meramente estético e removido com a frequência necessária pela equipe de conservadores-restauradores responsáveis. A remoção da camada mais externa de tinta é feita com o hidrojateamento de pressão controlada e remove liquens e demais manchas que surgem devido o contato constante com os agentes naturais. Após a remoção, a obra recebe nova aplicação de tinta branca à base de silicato, devolvendo sua camada protetora e sua estética original.
Para concluir, retomamos a importância da poética da artista Felícia Leirner na mediação de questões relacionadas à conservação de sua coleção. Se, por um lado, a exposição direta das obras ao ar livre é responsável pela proliferação mais acelerada de agentes de deterioração; por outro lado, é essa mesma interação que proporciona reflexões e abstrações poéticas e conceituais de uma natureza tão específica. Por isso, ao gerir os processos de conservação do acervo do Museu Felícia Leirner, mantendo programas constantes e procedimentos rigorosos de manutenção, algumas questões tangenciais devem ser levadas em consideração para que esses procedimentos nunca se sobreponham à poética própria da artista Felícia Leirner.