4º Trimestre | 2019

Nesta edição do Notícias de Acervo iremos aprofundar sobre os cuidados diários dedicados à coleção das obras de Felícia Leirner salvaguardadas pelo museu homônimo, focando especificamente na ação da água em contato com os diferentes materiais.

O Museu Felícia Leirner contém em seu acervo 85 obras da artista espalhadas em área verde aberta. Sendo monitoradas diariamente, o objetivo da instituição é identificar quaisquer modificações no estado de conservação, que possam interferir na integridade das esculturas, mediando a ação dos técnicos especialistas contratados por meio de consultoria. Além disso, a higienização aprofundada das obras é feita de forma periódica, retardando os danos ocorridos com o material por força de fatores externos.

Para pensarmos nos resultados da ação da água nas obras, é necessário, primeiramente, diferenciarmos os materiais utilizados pela artista em sua confecção. As esculturas produzidas em bronze possuem originalmente uma cor avermelhada característica do metal, mas cuja artista optou por adaptar a uma estética própria, atribuindo propositalmente uma coloração negra, obtida pela aplicação de uma pátina escura, que demanda reaplicação periódica a fim de respeitar a sua poética. O material, no entanto, possui uma fragilidade de resistência em relação ao acúmulo de água, que quando não evitado resulta na deterioração da cor, identificada pelo aparente retorno do tom avermelhado do bronze em partes específicas da obra. Dessa forma faz-se necessário o cuidado e atenção diários para evitar o acumulo de água e postergar, assim, os efeitos nocivos à preservação da cor da obra.

Já as produzidas em argamassa possuem o agravante de que o acúmulo de água pode levar a interferências estruturais, podendo prejudicar mais profundamente a integridade das esculturas por meio do estabelecimento de rachaduras que permitem a invasão da umidade até camadas mais profundas. Nessas obras, a higienização ocorre com mais cautela, tendo em vista, ainda, que estão expostas em uma área verde onde a sua integração com a fauna e flora local é mais intensa.

Por fim, em relação aos três materiais escolhidos por Felícia Leirner, o granito é o mais resistente à ação da água, sendo a higienização mais focada na interferência de outros meios, como o próprio contrato físico do público com a obra, que provoca o acúmulo de gordura na pedra, modificando o comportamento estético.

Assim, os cuidados diários são capazes de gerar resultados a longo prazo, prolongando a vida da obra de arte.

Lembramos, ainda, que o Museu Felícia Leirner dispõe, além da equipe de consultores especializada em manutenção e restauração de obras de arte, de um estagiário da área que se dedica diariamente a esses cuidados, além de realizar pesquisas e acompanhar a documentação específica da coleção.

Caso você ainda não conheça essa coleção, venha e entenda pessoalmente a complexidade da gestão, que visa a preservação responsável do patrimônio artístico brasileiro.